Diz a lenda que a cidade foi fundada pelos filhos de Remus, Senius e Aschius que roubaram a estátua da loba do templo de Apolo. Senius montava um cavalo preto, Aschius um corcel branco. Essas cores formam o esquema da cidade com a cor heráldica preto e branco, enquanto o emblema da cidade é o mesmo de Roma – e podem-se encontrar numerosas estátuas e obras de arte mostrando, tal como em Roma, os irmãos amamentados pela loba.
Na realidade, a cidade foi fundada na época etrusca e mais tarde desenvolvida pelos romanos como um posto militar chamado (Saena Júlia) durante o reinado de Octávio Augusto. Era, contudo, uma pequena povoação, longe das rotas principais do Império. No século V torna-se sede de uma diocese cristã. A cidade deve certamente a sua posição ao topo de uma colina, um sistema etrusca de construção sobre as colinas. A cidade sofreu no entanto alguns problemas devido a sua posição que a deixava de fora das principais linhas de comunicação romanas, mesmo assim conseguiu manter um estatuto bastante importante. Isso representou também o início tardio do cristianismo na região, tendo-se dado por volta do século IV. A partir do século VI os novos regimes dominados por os Lombardos do Norte trouxeram riqueza e uma nova influência pois eles usaram a cidade como a base principal da sua nova linha de comunicação chamada de Via Francigena.
As antigas famílias aristocráticas de Siena reclamam a sua origem nos Lombardos e à data da submissão da Lombardia a Carlos Magno. A grande influência da cidade como pólo cultural, artístico e político é iniciada no século XII, quando se converte num burgo auto-governado de cariz republicano, substituindo o esquema feudal. Todavia, o esquema político conduziu sempre a lutas internas entre nobres com a cidade rival de Florença. Data do século XIII a ruptura entre as fações rivais dos Gibelinos de Siena e dos Guelfos de Florença, tema que viria a ser argumento para a Divina Comédia de Dante. Em 4 de Setembro de 1260, os Gibelinos apoiaram as forças do rei Manfredo da Sicília e derrotaram os Guelfos em Montaperti, que tinham um exército muito superior em armas e homens. Antes da batalha, toda a cidade fora consagrada à Virgem Maria e confiada à sua protecção. Hoje, essa protecção é recordada e renovada, lembrando ao povo de Siena a ameaça dos aliados na Segunda Guerra Mundial de bombardearam a cidade em 1944, o que felizmente não veio a acontecer. Siena rivalizou no campo das artes durante o período medieval até o século XIV com as cidades vizinhas. Porém, devastada em 1348 pela Peste Negra, nunca recuperou o seu esplendor, perdendo também a sua rivalidade interurbana com Florença.
A Siena actual tem um aspecto muito semelhante ao dos séculos XIII-XIV. Detém uma universidade fundada em 1203, famosa pelas faculdades de Direito e Medicina, e que é uma das mais prestigiadas universidades italianas. Em 1557 perdeu a independência e foi integrada nas formações políticas e administrativas da Toscana. Siena também teve como seus filhos personalidades de elevada relevância, nomeadamente Papas: Alexandre III, Pio II, Pio III e Alexandre VII. Os dois grandes santos de Siena são Santa Catarina (1347-1380) e São Bernardino (1380-1444).
Catarina Benincasa, filha de um humilde tintureiro, fez-se irmã na Ordem Terceira dominicana e viveu como monja na casa dos pais. É famosa pelo intercâmbio interior com o próprio Cristo, que num êxtase lhe disse: "Eu sou aquele que é e tu és aquela que não é". Apesar da sua origem modesta, influenciou papas e príncipes com a sua sabedoria e o seu exemplo, conseguindo inclusive convencer o papa de então, contra a maioria dos cardeais, a regressar a Roma do exílio de Avinhon em França.
Quanto ao franciscano São Bernardino, ele é célebre por ter sido o maior expoente, no Catolicismo, da via espiritual de invocação do Nome Divino, que encontra similares em todas as grandes religiões, do Budismo (nembutsu) ao Islão (dhikr) e ao Hinduísmo (mantra). Os sermões que Bernardino fez na praça central de Siena provocaram tal fervor religioso e devoção ao nome de Jesus que o conselho municipal decidiu colocar o monograma do nome de Jesus (composto pelas letras IHS, com o significando "Jesus salvador dos homens") na fachada do prédio do governo. Do mesmo modo, muitos cidadãos o pintaram sobre as fachadas das suas casas, como ainda hoje se pode ver nesta magnifica cidade.
A sua catedral, iniciada em meados do século XII, é um representativo exemplo da arquitectura gótica italiana. A fachada principal, obra de Giovani Pisano, foi terminada em 1380; no interior pode ver-se o púlpito octogonal apoiado sobre leões de Nicola Pisano, e o seu pavimento de mosaicos. Sob a catedral, no baptistério, encontra-se a magnífica pia baptismal com baixo-relevo de Donatello, Ghiberti, Jacopo della Quercia e outros escultores do século XV. A praça principal, em forma de meia-lua, é a Piazza del Campo, e é onde se encontra o Palazzo Publico (câmara municipal ou prefeitura, do século XIV), com o famoso campanário, e onde se podem ver os frescos de Simone Martini e Ambrósio Lorenzetti com relevos da Fuente Gaia de Jacopo della Quercia. Nesta praça também está a alta Torre del Mangia. Na Piazza del Campo realiza-se a famosa e emotiva corrida de cavalos chamada Palio di Siena. O Palio é feito duas vezes por ano, a 2 de Julho e 16 de Agosto, com 10 cavalos e cavaleiros, e cada par representa um dos 17 bairros da cidade, designados contrade. Excepcionalmente, em anos de Jubileu realiza-se um terceiro Palio.
San Domenico (Basílica de S. Domingos em primeiro plano na foto acima) é uma igreja de tijolo vermelho em Siena. Fundada pelos dominicanos em 1125 como parte de seu convento, A atual igreja de San Domenico data de 1226. É uma estrutura enorme e grave, sobressai acima de um ponto da moderna cidade e oferece uma bela vista sobre o Duomo e telhados de Siena. Para sempre ligado à veneração de Santa Catarina de Siena esta grande Basílica de San Domenico foi construída com dupla finalidade sendo ao mesmo tempo um convento Dominicano, é um templo totalmente gótico na sua formação. O estilo gótico manifesta-se aqui na arquitetura e nos materiais usados sendo a sua construção inteiramente em tijolo. No interior, na Capela das abóbadas, está o fresco de Andréa Vanni, pintado em 1667. É o único trabalho remanescente que descreve Saint Catherine e pode ser considerado como um verdadeiro retrato da santa.
A catedral de Siena (em segundo plano na foto acima) apresenta uma conjugação de variados estilos, pois a sua construção arrastou-se durante cerca de trezentos anos, do século XIII ao século XV. A parte inferior da sua fachada, de tripla arcada e três portais, românica, contém estátuas de Giovanni Pisano, cujos originais se encontram no Museu da Fábrica Metropolitana. A parte superior do frontispício, de estilo gótico flamejante, é da autoria de Giovanni Cecco, e o remate das três cúspides ornadas com mosaicos de 1877 são de Castellani. Na cúspide que coroa o espaço central está representada "A última ceia" no vitral da rosácea. O campanário foi desenhado por Agostino di Giovanni e Agnolo di Ventura. No interior da planta de cruz latina, é notável o trabalho dos mármores coloridos, que repete esquemas já usados na fachada, e o pavimento produzido pelos artistas mais famosos da época. A catedral encontra-se no designado Centro Histórico de Siena, local classificado Património Mundial pela UNESCO em 1995.
Apesar de já termos viajado bastante e por vários países da europa, a Catedral de Siena arrebatou os nossos gostos por obras, pinturas e esculturas poucas vezes vistas em outro lugar do mundo.
Iniciada em 1284 e construída no estilo da Toscana, por Giovanni Pisano, a exuberante fachada representa profetas, filósofos e apóstolos. Em 1288, foi criada a janela em forma de rosa, um vitral redondo colocada na área do coro, a partir de desenhos de Duccio. Os trabalhos na parte superior da fachada foram iniciados em 1376 por Giovanni di Cecco, a partir de um projeto inspirado na Catedral de Orvieto. A porta central de bronze é recente e data de 1958, foi criada por Enrico Manfrini. No canto esquerdo da fachada há uma inscrição do século XIV, que marca o túmulo de Giovanni Pisano. Ao lado está uma coluna com a loba amamentando Rômulo e Remo, símbolos de Siena. O efeito do mármore preto e branco é o que mais marca quem visita o interior da Catedral. O preto e o branco são as cores do brasão de Siena. Os capitéis das colunas da parte da frente da nave são esculpidos com bustos e animais alegóricos. Há bustos de 172 Papas (começando com São Pedro até Lúcio III) e de 36 imperadores. O vitral redondo do coro, representando a Última Ceia, foi feito em 1288 a partir de desenhos de Duccio. É um dos mais antigos exemplos de vitrais da Itália. A cúpula é adornada com uma lanterna, como se fosse um sol dourado. As duas fontes foram construídas por Antonio Federighi em 1462 e 1463. O altar de mármore foi construído em 1532 por Baldassare Peruzzi. O enorme cibório de bronze é obra de Vecchietta (1467-1472). Os anjos em volta do altar são obras-primas de Francesco di Giorgio Martini. Contra os pilares estão oito candelabros em forma de anjos, feitos por Domenico Beccafumi. O chão é um dos mais bem decorados da Itália e cobre toda a área da Catedral. A sua construção durou dois séculos e quarenta artistas trabalharam nesta obra. São 56 painéis em diferentes tamanhos. O chão inteiro pode ser visto apenas durante três semanas por ano. Fomos privilegiados e pudemos vê-lo, admirá-lo e pisá-lo durante a nossa estadia na cidade. Para estar protegido no resto do ano, o pavimento é coberto e só poucas áreas podem ser vistas.
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